terça-feira, 17 de abril de 2012

Eletroconvulsoterapia para Tratamento da Depressão Grave

 No imaginário popular, eletrochoque é aquela antiga tortura usada contra pacientes psiquiátricos.

Na psiquiatria, "eletrochoque" é o sinônimo politicamente incorreto de eletroconvulsoterapia, "o antidepressivo mais poderoso que existe", segundo Harold Sackheim, professor da Universidade Columbia (EUA).

Sackheim, que é americano e participou do Congresso Brasileiro de Psiquiatria encerrado sábado em Fortaleza, disse que 70% dos pacientes com quadros de depressão grave se recuperaram com eletrochoques. Já a taxa de sucesso com antidepressivos, nesses casos, não ultrapassou 30%.

"Metade dos pacientes que eu tratei já tentou se matar e eles acabaram se recuperando", disse à Folha o professor de psiquiatria.

Segundo o brasileiro Moacyr Rosa, também pesquisador da Columbia, o preconceito contra o método vem de seu mau uso no passado, quando era aplicado sem anestesia e para qualquer coisa. "A eletroconvulsoterapia acompanhou a evolução da medicina e hoje suas aplicações são muito mais seguras."



O que é Eletroconvulsoterapia?

A ECT - eletroconvulsoterapia é um tratamento extremamente eficaz e seguro para doenças psiquiátricas, principalmente a depressão. O objetivo é promover uma estimulação elétrica no cérebro com a finalidade de induzir uma crise convulsiva que dura ao redor de 30 segundos, mas já suficiente para aliviar os sintomas das doenças. O tratamento é feito em sessões, o número de aplicações é definido pelo psiquiatra. Tudo é feito em um ambiente hospitalar, com o paciente anestesiado para que não sinta desconforto ou dor e a liberação é feita no mesmo dia.

Apesar do alto índice de eficácia e da segurança do tratamento, a técnica ainda é incompreendida e confundida com tratamento doloroso, antiquado ou mesmo tortura. Antigamente a ECT era conhecida como “eletrochoque”. Nos anos 50, com a descoberta de remédios com efeitos antipsicóticos, antidepressivos e estabilizadores do humor, a ECT começou a ser vista negativamente. No entanto, nenhuma droga, até o momento, se iguala, em eficácia, à ECT. Quando os profissionais começaram a observar as limitações do efeito das medicações o interesse pela ECT voltou a crescer. Em 1959, foi relatado o uso de anestesia durante o procedimento. A partir dos anos 70 a técnica foi extremamente aprimorada, com o desenvolvimento de aparelhos mais sofisticados, que permitem um controle preciso da carga fornecida, uso de anestesia, oxigenação, relaxamento muscular e monitoração detalhada das funções vitais. 


Atualmente, estima-se que 50 mil pessoas recebam ECT por ano nos Estados Unidos, no Brasil ainda não há dados precisos, mas a técnica é amplamente utilizada nos melhores e mais conceituados hospitais de todo o país. Infelizmente o preconceito e a falta de informação ainda existem, mas a cada dia mais profissionais e pacientes reconhecem que a ECT é uma intervenção eficaz, segura e, muitas vezes, capaz de salvar a vida em certos transtornos nos quais outras intervenções tiveram pouco ou nenhum efeito.

Editoria de Arte/Folhapress


 Como surgiu


O tratamento surgiu na década de 30, quando os neuropsiquiatras italianos, Ugo Cerletti e Lucio Bini, iniciaram pesquisas induzindo convulsões com eletricidade. Em 1938, Cerletti realizou a primeira terapia convulsiva induzida eletricamente com finalidade terapêutica. Descobriu-se, então, que o tratamento reduz o risco de suicídio, quase a ponto de desaparecimento, rapidamente. Em poucos anos, a ECT tornou-se um dos principais métodos de tratamento da esquizofrenia e transtornos do humor.


Indicações

Os quadros depressivos são os que melhor respondem a este tratamento. Todos os subtipos podem se beneficiar do tratamento: refratária, unipolar, bipolar, catatônica, associada a transtorno de personalidade ou a uma outra doença orgânica.


A ECT tem indicação como primeiro tratamento nos quadros nos quais:

1. Há um risco de suicídio iminente;

2. Uma desnutrição que põe em risco a vida do paciente;

3. A presença de sintomas catatônicos;

4. Presença de sintomas psicóticos graves;

5. Em situações nas quais outros tratamentos são mais arriscados devido aos seus efeitos colaterais (por exemplo: pacientes idosos, durante a gestação e amamentação).

Outros quadros também podem ter indicação: mania e seus subtipos, esquizofrenia e outras psicoses funcionais resistentes ao uso de antipsicóticos, epilepsia refratária e transtornos mentais em epilépticos, síndrome neuroléptica maligna e doença de Parkinson (há melhora dos sintomas extrapiramidais e depressivos).


Amnésia

Apesar de exaltarem a eficácia do método, os especialistas reconhecem que a terapia por convulsão elétrica causa efeitos colaterais que variam da náusea até a perda de parte da memória.

Segundo Del Porto, é comum o procedimento causar perda transitória da capacidade de memorização. "Depois de duas ou três semanas, tudo volta ao normal. Já os casos de perda das recordações costumam ser raros".

Segundo Rosa, esses desconfortos são o foco atual das pesquisas. "A ideia hoje é diminuir a incidência desses efeitos colaterais."


FONTE:  Instituto de Pesquisas Avançadas em Neuroestimulação www.ipan.med.br






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