segunda-feira, 14 de maio de 2012

Automutilação não é suicídio!


O que é a Automutilação?
A automutilação é definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. As formas mais freqüentes de automutilação são cortar a própria pele, bater em si mesmo e queimar-se.

Por quais razões a Automutilação se desenvolve?
Embora as causas da automutilação ainda não estejam bem definidas, há evidencias de que fatores neurobiológicos e fatores psicossociais, como características de personalidade mais impulsiva e compulsiva, bem como a história de vida e o ambiente colaboram para o surgimento da automutilação. Os pacientes descrevem o início da automutilação após vivência de forte emoção, como raiva, utilizando este comportamento como forma de lidar com a emoção, um comportamento com características impulsivas. Com o decorrer do tempo, o paciente observa que obtém alivio de sensações ruins e passa a repetir a automutilação com o objetivo de obter alívio novamente. Começa a planejar e, muitas vezes, ritualizar a realização do ferimento. Estes comportamentos podem ser desencadeados por uma vivência traumática ou apenas pela lembrança desta.
Alguns dos fatores de risco relacionados a automutilação são: abuso emocional, físico ou sexual na infância; conflitos familiares; abuso de álcool e tabaco ou outras substâncias; adolescente vítima de “bulling”; presença de sintomas depressivos, ansiosos, impulsividade e baixa auto-estima.

Como sei identificar se alguém está com esse problema?
As pessoas que apresentam automutilação sentem vergonha e medo de revelar este comportamento, por isso procuram esconder as lesões e as fazem solitariamente onde não podem ser observadas. Elas reconhecem que este comportamento não é bem aceito pelas pessoas.
Desta forma, você poderá desconfiar que alguém apresenta automutilação quando essa pessoa:

a) Costuma usar roupas de mangas longas, mesmo no verão, com altas temperaturas;

b) Apresentam várias cicatrizes ou lesões repetidas e tem dificuldade para explicá-las;

c) Isola-se evitando situações onde seu corpo pode ser exposto, como praia ou piscina;
Vale lembrar que estas pessoas podem apresentar sintomas depressivos e de fobia social associados.

A Automutilação tem tratamento?
Sim, a associação psicoterapia e medicação tem se mostrado eficaz nos casos de automutilação. A psicoterapia, nestes casos, tem como um dos objetivos ajudar o paciente a identificar outras formas de lidar com frustrações, que sejam mais eficazes do que seu comportamento. Ainda não há medicação específica indicada para que o paciente pare de se mutilar, entretanto, a medicação pode ser indicada para alívio dos sintomas depressivos e ansiosos que podem colaborar para a manutenção do comportamento. Há também medicações que são usadas para diminuir a impulsividade e que ajudam o paciente a resistir a vontade de se machucar, caso esta apareça.

A quem devo buscar para pedir ajuda/auxílio?
Buscar profissionais da área de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. Seria mais indicado profissional com experiência no tratamento de pacientes com automutilação, pois estes pacientes apresentam algumas peculiaridades. Caso estes profissionais não estejam disponíveis, uma vez que são raros os profissionais com experiência em automutilação, seria indicado profissionais com experiência em transtornos do impulso.

Jackeline Suzie Giusti, psiquiatra; Mestre em Psiquiatria pelo Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq – HCFMUSP); Psiquiatra responsável pelo atendimento dos pacientes com Automutilação no Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso.  E-mail: jsgiusti@terra.com.br / Consultório: (11) 3085-9832 ou 3891-1504

Para tratamento gratuito da Automutilação
Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso  do IPq- HCFMUSP pelo tel: 11 3069-7805 e para mais informações pode-se acessar o site: www.amiti.com.br

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Câmara aprova prazo maior de prescrição de crime sexual contra criança

Plenário aprovou proposta conhecida como Lei Joanna Maranhão, de autoria da CPI da Pedofilia, do Senado. A Câmara aprovou nesta terça-feira (8) o Projeto de Lei 6719/09 , da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado sobre a Pedofilia, que determina a contagem da prescrição dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes somente a partir de quando elas completarem 18 anos. A proposta foi aprovada em Plenário e será enviada para sanção da presidente Dilma Rousseff.

O projeto altera o Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40 ) com o objetivo de dar mais tempo à vítima e ao Ministério Público para iniciar a ação penal. No caso dos crimes de maior gravidade, como o estupro, a nova contagem da prescrição permitirá que a ação seja iniciada 20 anos depois da maioridade.
Assim, se uma criança de oito anos sofreu esse tipo de abuso, ela terá até os 38 anos para denunciar o agressor. Atualmente, a prescrição conta a partir da data do crime e varia conforme a pena máxima aplicável a cada crime.

A exceção na nova regra será apenas no caso de a ação já ter sido proposta em algum momento antes de a vítima completar essa idade.

Lei Joanna Maranhão
O projeto veio do Senado batizado como Lei Joanna Maranhão, em referência ao caso da nadadora brasileira que denunciou seu treinador por abuso sexual sofrido quando era criança.
Arquivo/ Leonardo Prado João Paulo Lima: proposta vai facilitar denúncias contra agressores. A intenção da CPI é impedir abusos em razão de o agressor acreditar na impunidade e também dar conforto à vítima, que poderá denunciar o crime se, por algum motivo, seus pais não o fizeram no passado.

Para o relator da proposta na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), deputado João Paulo Lima (PT-PE), a nova lei vai incentivar a denúncia dos abusadores, já que muitos deles confiam na pouca idade da criança à época do crime para continuar impunes.
Muitas vezes, a criança não tem educação social ou orientação da família, ou a violência é feita por familiares. Essa lei deve inibir ainda mais os crimes praticados contra essas crianças e adolescentes, afirmou.


CPI da Pedofilia
O relatório final da CPI da Pedofilia foi aprovado no Senado em dezembro de 2010 com recomendações ao Ministério Público, a estados e municípios, aos ministérios da Saúde e da Educação, e ao Poder Judiciário.

A Lei 12.015, em vigor desde 2009, fez diversas alterações no Código Penal em relação aos crimes contra a dignidade sexual envolvendo crianças e adolescentes, a que se refere o projeto sobre prescrição aprovado nesta terça-feira.

Abaixo, a íntegra do projeto aprovado, que segue a sanção presidencial.
Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), com a finalidade de modificar as regras relativas à prescrição dos crimes praticados contra crianças e adolescentes.

O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º O art. 111 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso V:
"Art. 111. ..........................................................................................
........................................................................................................... V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal."(NR)
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.



EM OUTROS POSTS RELATEI A INEFICÁCIA DA LEI BRASILEIRA, PORÉM, HOJE TENHO UMA CERTA ESPERANÇA. ASSIM COMO JOANNA, AMANHÃ IREI AO MINISTÉRIO PÚBLICO DENUNCIAR O MEU TIO CONTRA O CRIME DE PEDOFILIA E ESPERO QUE A JUSTIÇA NÃO SEJA CEGA. PORTANTO, NÃO SE CALEM. APROVEITEM ESTA OPORTUNIDADE QUE A LEI ESTÁ LHES PROPORCIONANDO E DENUNCIEM O MONSTRO QUE FEZ DE SUA VIDA UM VERDADEIRO INFERNO! 
TENHA CORAGEM!A JUSTIÇA PODE SER SUA VINGANÇA OU SEU GRITO DE LIBERTAÇÃO!

Zumbidos e os Transtornos Psiquiátricos

Quem de nós nunca percebeu um "barulhinho" desagradável no ouvido? Pode ser constante ou aparecer de vez em quando, mas incomoda. Esse "barulhinho" recebe o nome de zumbido. É um sintoma muito comum na prática clínica e afeta 10 a 15% da população adulta.

O que é o zumbido? É a percepção de um som dentro da orelha ou da cabeça na ausência de estimulação acústica externa. Pode ser de diversos tipos: uni ou bilateral, pulsátil ou não pulsátil, contínuo ou intermitente.

Os zumbidos tendem a aumentar sua prevalência com o aumento da idade. Porém, ao contrário do que se pensa, os zumbidos podem acometer pessoas de todas as idades, inclusive crianças. Um mito bastante difundido é de que os zumbidos só acometem indivíduos que têm perda auditiva. Isso não é verdade. Pacientes com audição normal também podem se queixar de zumbidos.

Como surgem os zumbidos? Os zumbidos podem surgir por alterações musculares, vasculares, exposição a agentes ototóxicos, uso de medicações, erros do metabolismo, mau funcionamento da ATM (articulação temporo-mandibular), exposição a ruídos, uso abusivo de cafeína, álcool e nicotina, por doenças orgânicas (Diabetes Mellitus, Hipercolesterolemia, Hipertrigliceridemia etc.), por tumores e por transtornos psiquiátricos.

Do ponto de vista clínico, o zumbido pode adquirir associação negativa pelo fato dos pacientes relatarem com frequência "sentimento de perigo", "medo do desconhecido"; referências negativas como "isso não vai acabar", "não tem cura", "você terá que aprender a conviver com isso". Infelizmente um aconselhamento negativo é o fator mais comum, sendo um dos gatilhos para o desenvolvimento e manutenção do reforço negativo. Em consequência, os pacientes passam mais tempo monitorando seu zumbido e apresentam problemas de atenção, sono, concentração, irritabilidade e problemas no trabalho.

Os zumbidos têm sido frequentemente relacionados a vários transtornos psiquiátricos. Mas por que pacientes com zumbidos apresentam tantos transtornos psiquiátricos? Qual a relação entre eles?

Uma das explicações encontradas para a concomitância de zumbidos e os transtornos psiquiátricos seria a participação dos neurotransmissores, sobretudo da Serotonina. Esta, além de promover a regulação do sono e do humor, está presente em todo córtex auditivo primário, desencadeando através de seu desequilíbrio, alterações na percepção sonora, ou seja, zumbidos.

Outro neurotransmissor envolvido é a Noradrenalina. É absolutamente verdadeiro que o estresse piora os zumbidos. O incômodo causado pelo zumbido também representa um fator estressor ao organismo. A região cerebral envolvida na resposta ao estresse inclui o hipocampo, a amígdala, o cíngulo e o córtex pré-frontal. Enquanto a amígdala tem papel nas respostas de medo condicionadas, o sistema adrenérgico exerce um papel crítico no estresse. A exposição a estressores resulta na liberação de noradrenalina por todo cérebro. A noradrenalina que é secretada pelas fibras noradrenérgicas que inervam a cóclea pode causar ativação das células ciliadas na ausência de som, ou seja, zumbidos.

Sabendo que pacientes com ansiedade e depressão tendem a apresentar níveis alterados de serotonina e noradrenalina, fica mais fácil entender porque existe uma alta prevalência de pacientes deprimidos e ansiosos que se queixam de zumbidos.

Então, se você sofre de zumbidos e não foram encontradas causas e/ou eles não melhoram seria bom que pensasse em fazer uma avaliação psiquiátrica, pois a maioria dos pacientes com queixas de zumbidos desconhece possuir um transtorno psiquiátrico. Isso obviamente leva a ausência de tratamento específico e a manutenção do seu sofrimento.

CURIOSIDADE: Você sabia que várias personalidades sofreram de zumbidos? Jean Jacques Rousseau, Goya, Eric Clapton, Barbra Streisand, Thomas Edison, Charles Darwin, Oscar Wilde, mas, sem dúvida, Beethoven e Vincent Van Gogh se destacaram pela intolerância e sofrimento causados pelos zumbidos. Beethoven declarou: "Minhas orelhas assobiam e zumbem constantemente de dia e de noite. Eu posso dizer que estou vivendo uma vida miserável". Já no caso de Van Gogh, especula- se que ele teria cortado sua orelha por não aguentar mais seus zumbidos.


domingo, 6 de maio de 2012

Pesquisa Indica O Consumo Do Chocolate e Suas Implicações Para a Depressão

Uma pesquisa publicada na última edição do periódico Archives of Internal Medicine demonstra que indivíduos que consomem muito chocolate por dia apresentam mais sintomas depressivos. Esses sintomas poderiam levar a um maior consumo de chocolate, mas será que faz sentido pensar o inverso? Muito chocolate poderia ser a causa dos sintomas depressivos?

Existe uma forte cultura popular de que o chocolate tem o poder de melhorar nosso humor, e são vários mecanismos propostos para explicar essa relação. Entretanto, são poucas as pesquisas científicas que examinaram o efeito do chocolate sobre o humor das pessoas. A presente pesquisa avaliou quase mil homens e mulheres saudáveis que não faziam uso de medicações antidepressivas, e com média de idade de 57 anos. Uma escala de sintomas  depressivos e um questionário sobre hábitos alimentares, incluindo o consumo de chocolate, foram aplicados. Os participantes que apresentavam um score de sintomas depressivos indicando o diagnóstico de depressão consumiam uma média de 8.4 porções de chocolate por mês, comparado a 5.4 porções entre aqueles que não tinham sintomas sugestivos de depressão. Aqueles que apresentavam altos scores, sugerindo o diagnóstico de depressão maior, estes consumiam em média 11.8 porções de chocolate por mês.

Esses resultados não foram diferentes entre homens e mulheres. Os pesquisadores definiram uma porção como uma pequena barra de chocolate, cerca de 30 gramas.
Infelizmente, a metodologia do estudo não permite dizer se o consumo do chocolate é causa ou consequência da depressão. Alguns estudos têm demonstrado, em modelos animais, efeitos positivos do chocolate sobre o humor. Por outro lado, não é possível excluir a possibilidade de que o chocolate pode colaborar para um humor depressivo. Uma das possíveis explicações é a de que alguns produtos com chocolate contêm gordura trans que concorrem com as gorduras ômega-3, estas últimas que tão importantes são para o funcionamento do cérebro, e que têm reconhecido poder de prevenir a depressão.

Novos estudos deverão avançar no conhecimento dessa relação entre o chocolate e o humor. Entretanto, a maior parte do conhecimento que dispomos até o momento apóia a ideia de que o chocolate pode realmente estimular nosso humor. São vários os componentes do chocolate que podem explicar esse efeito, entre eles a cafeína, a teobromina, a anandamida e o seu alto teor calórico. Como tudo na vida, o excesso deve ser evitado, e no caso do chocolate, a maior preocupação deve ser o controle do peso. É bom lembrar que o chocolate amargo, além de poder elevar nosso humor, também é um grande aliado dos nossos vasos sanguíneos.


FONTE: Dr. Ricardo Teixeira - CRM/DF 12050 - é doutor em neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília e é o autor do Blog "ConsCiência no Dia a Dia" - http://consciencianodiaadia.com

sábado, 5 de maio de 2012

A Comorbidade entre Transtornos Alimentares e de Personalidade e suas implicações clínicas


Relato de caso
Definimos comorbidade a ocorrência conjunta de dois ou mais transtornos num mesmo indivíduo avaliado clinicamente. Em psiquiatria, as comorbidades são comuns. Alguns estudos sugerem que quase 50 por cento dos pacientes psiquiátricos recebem mais de um diagnóstico. Alguns tipos de comorbidade podem antecipar a procura pelo atendimento médico em decorrência do grande desconforto que a superposição de sintomas pode causar. Por outro lado, a presença de uma comorbidade pode, de forma direta, interferir no prognóstico da doença e no seu manejo clínico.

Transtornos afetivos (depressivos principalmente), ansiosos (TOC), transtornos de personalidade (emocionalmente instável tipo borderline e impulsivo, histriônico e anancástico) segundo a literatura, têm grande prevalência em grupos de pacientes com transtornos alimentares, apesar da frequência de estas patologias serem muito variáveis de trabalho para trabalho.

Mesmo com os problemas para elaboração de estatísticas, os transtornos de personalidade mais comumente encontrados em pacientes com bulimia são, de forma invariável, o emocionalmente instável, subtipo limítrofe, ou borderline (varia entre 14% e 83%, dependendo da metodologia empregada), o histriônico, em pacientes com anorexia nervosa borderline, e anancástico. Outros transtornos de personalidade também aparecem com porcentagens muito baixas (evitativo, dependente e paranóide). 

As relações que uma doença estabelece com outra podem ser muito variadas também e derivadas de casos crônicos. Têm sido observados inúmeros casos de transtornos alimentares surgindo em idades muito precoces. Esses pacientes “constroem” sua personalidade (marcando profundamente seu caráter e identidade) à luz de um transtorno alimentar. Quando chega ao fim da adolescência, início da idade adulta, o mesmo indivíduo pode apresentar uma forma de pensar, sentir e de se relacionar muito diferente da média da população. Esse funcionamento pode perpetuar mesmo na ausência do transtorno alimentar, ser duradouro e desadaptativo. Com esse comportamento, o indivíduo pode sofrer ou fazer sofrer quem o cerca. Em outras situações, pacientes com transtornos de personalidade primários podem, por conseguinte, desenvolver transtornos alimentares


As seguintes interpretações são possíveis diante de dois transtornos comórbidos:

1. O transtorno A predispõe ao transtorno B ou de alguma forma causa B;
2. O transtorno B predispõe ao transtorno A ou de alguma forma causa A;
3. A e B são influenciados por um fator subjacente C (predisponente ou causal);
4. A aparente associação de A e B é um resultado casual decorrente de serem relativamente freqüentes na amostra estudada ou por outros fatores ao acaso.


Estratégias de tratamento
A estratégia de tratamento de pacientes com transtornos alimentares em comorbidade com transtornos de personalidade torna-se muito complexa e requer uma equipe multidisciplinar treinada para tal. A abordagem deve ser nutricional, psicológica e psiquiátrica. 

As estratégias de tratamento vão se configurando para algo muito individual, com poucas experiências grupais de sucesso. Traços anti-sociais em pacientes com transtornos de personalidade anancástico, limítrofe, ou histriônico podem comprometer de forma direta qualquer tratamento de abordagem grupal, mediante rigorosos ataques ao próprio tratamento, ou a melhoras individuais.

Pacientes que melhoram podem ser vistos como “traidores”, fato muito comum em grupos de pacientes com anorexia nervosa.

Os pacientes, além de necessitarem de períodos maiores de internação, tentam mais o suicídio, automutilam-se e mobilizam a equipe e outras pacientes de forma maciça, despertando sentimentos variados em seus membros. Esses sentimentos e impressões devem ser discutidos em reuniões rotineiras com o supervisor experiente para que as “atuações” desses pacientes sejam minimizadas.

Pacientes com transtornos alimentares e
distúrbios da personalidade têm uma chance maior de cronificação. Mesmo que a palavra “cronificar” apresente conotação esdrúxula e malvista por alguns grupos que se dedicam à abordagem de doenças mentais, ela pode ser entendida como uma forma adaptativa nesses casos. Transtornos alimentares são doenças graves de grande morbidade. Esta morbidade, dependendo do tipo e da gravidade do transtorno de personalidade associado, pode chegar a patamares tão altos que o fato de uma paciente sobreviver em dez anos de tratamento deveria ser comemorado como uma vitória. Tornar-se crônico pode significar um sucesso. 

Uma paciente com medo do abandono muito acentuado e por não se sentir apta a viver sozinha, tende a cronificar-se, permanecendo por muitos anos em instituições destinadas ao tratamento de pessoas com transtornos alimentares. Assumem uma identidade de bulímica, ou de paciente com anorexia. Isso é muito notado, pois as expectativas do terapeuta são vivenciadas com grande ansiedade pelo paciente. 

Não raro, a paciente piora da sintomatologia alimentar ou mesmo ameaça ou tenta suicídio e se automutila em certos momentos nos quais se sente eminentemente abandonada por uma melhora qualquer de seu estado clínico que repercurta numa atenção menor por parte de seus terapeutas.

O emprego de psicofármacos nos transtornos alimentares está bem definido. Nos casos de comorbidade com os transtornos de personalidade, encontramos grandes divergências. Alguns clínicos vivem indagando-se se personalidade é “medicável”. No caso dos transtornos de personalidade, terapêuticas farmacológicas podem, de forma direta, melhorar a impulsividade, possibilitar uma adequação melhor do afeto, reduzindo as marcantes oscilações do humor e a ansiedade. As medicações incluem neurolépticos, inibidores da recaptação de serotonina, noradrenalina e estabilizadores de humor.

Podemos concluir que a comorbidade transtornos de personalidade e transtornos alimentares interfere de forma direta no curso e prognóstico da doença, verificando-se alto índice de suicídio, recaídas constantes e ainda dificuldade na elaboração de estratégias de tratamento.

Referências bibliográficas
 revpsiq@edu.usp.br

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Programa Conexões Familiares


Anorexia Nervosa



CARACTERÍSTICAS:
A anorexia nervosa caracteriza-se por perda de peso intensa à custa de dietas rígidas auto-impostas em busca desenfreada da magreza, distorção da imagem corporal e amenorréia (ausência da menstruação). 

Fui diagnosticada com anorexia nervosa aos 18 anos de idade, após ser proibida pela dona da academia de frequentá-la, bem como, por ter sofrido uma parada cardio-respiratória em decorrência da minha desnutrição 

A baixa auto-estima bem como a distorção da imagem corporal são os principais componentes que reforçam a busca de um emagrecimento incessante, levando à prática de exercícios físicos, jejum e uso de laxantes ou diuréticos de uma forma ainda mais intensa. 

Resolvi fazer dieta, já que era uma adolescente obesa. Estava cansada de ser a gordinha da sala de aula, família, turma de amigas. Entretanto, ela se tornou extremamente restritiva, pois percebi que quanto mais atividade física fazia e menos comia, mais rápido emagrecia. Até que em pouco tempo perdi 30 kgs...


Pacientes com anorexia nervosa do subtipo purgativo, ou seja, que apresentam episódios bulímicos e alguma prática de purgação (vômitos, diuréticos, enemas e laxantes), são mais impulsivas e apresentam aspectos de personalidade diferentes de pacientes que usam apenas práticas restritivas e são mais perfeccionistas e obsessivas.

Também fiz uso de laxantes, apesar de ter consciência que estava perdendo líquidos e não gordura, porém só o fato de subir na balança e ver o ponteiro diminuir era um alívio imenso para mim!

Na Anorexia Nervosa os pacientes podem empregar uma ampla variedade de técnicas para estimar seu peso, incluindo pesagens excessivas, medições obsessivas de partes do corpo e uso persistente de um espelho para a verificação das áreas percebidas como "gordas". A auto-estima dos pacientes com Anorexia depende obsessivamente de sua forma e peso corporais. A perda de peso é vista como uma conquista notável e como um sinal de extraordinária disciplina pessoal, ao passo que o ganho de peso é percebido como um inaceitável fracasso do autocontrole. Embora alguns pacientes com este transtorno possam reconhecer que estão magros, eles tipicamente negam as sérias implicações de seu estado de desnutrição


Devido a mania que tinha de ficar me pesando constantemente, me olhando no espelho e ainda por cima ficar indignada por me ver gorda, sendo que as pessoas me enxergavam como um "cadáver", fui rotulada como neurótica, obsessiva, débil mental, etc. 

Um estranho comportamento em relação à comida pode ser exibido por alguns desses pacientes. Eles costumam esconder comidas pelos armários, banheiros, dentro de roupas ou podem preparar pratos extremamente elaborados para amigos ou familiares. Ou ainda, podem procurar empregos como garçonetes, cozinheiros ou simplesmente colecionar receitas e artigos sobre comida. A preocupação crescente com alimentos corre juntamente com a diminuição no consumo. Assim, intensifica o medo de ceder ao impulso de comer e aumentam as proibições contra ela. Padrões de pensamento pré-mórbidos assumem um novo significado, um estilo de raciocínio de tudo-ou-nada leva a conclusão de que um grama de peso ganho significa uma transição de normal para gordo.

Quando fazia acompanhamento no Ambulin (Hospital das Clínicas em Ribeirão Preto-SP), o nutrólogo chegou a me questionar se estudava assuntos relacionados a alimentação, já que possuía um conhecimento bem amplo e muitas vezes o confrontava. No entanto, ele tinha razão, sempre li e estudei muito sobre alimentação...

CAUSAS:
Não se conhecem as causas fundamentais da Anorexia Nervosa. Há autores que evidenciam como causa a interação sociocultural mal adaptada, fatores biológicos, mecanismos psicológicos menos específicos e especial vulnerabilidade de personalidade.

Aspectos biológicos incluem as alterações hormonais que ocorrem durante a puberdade e as disfunções de neurotransmissores cerebrais, tais como a dopamina, a serotonina, a noradrenalina e dos peptídeos opióides, sabidamente ligados à regulação normal do comportamento alimentar e manutenção do peso, além dos aspectos genéticos.

Os modelos de sistemas familiares procuram identificar determinados padrões de funcionamento familiar alterado, por exemplo, minimização de conflitos, envolvimentos da criança em tensões familiares, pais ausentes, mães que competem com as filhas, etc. Porém, estes fatores hoje são vistos mais como mantenedores do comportamento do que como causais.

Evidências preliminares sugerem que os pacientes com Bulimia Nervosa, Tipo Purgativo, apresentam mais sintomas depressivos e maior preocupação com a forma e o peso do que os pacientes com Bulimia NervosaTipo Sem Purgação.

TIPOS:

Tipo Restritivo
Neste tipo a perda de peso é conseguida principalmente através de dietas, jejuns ou exercícios excessivos. Durante o episódio atual, esses pacientes não se desenvolveram compulsões periódicas ou purgações.

Tipo Compulsão Periódica/Purgativo
É quando o paciente se envolve regularmente em compulsões de comer seguidas de purgações durante o episódio atual de anorexia. A maioria dos pacientes com Anorexia Nervosa que comem compulsivamente também fazem purgações mediante vômitos auto-induzidos ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas. Alguns pacientes incluídos neste subtipo não comem de forma compulsiva, mas fazem purgações regularmente mesmo após o consumo de pequenas quantidades de alimentos. Aparentemente, a maior parte dos pacientes com o Tipo Compulsão Periódica/Purgativo dedica-se a esses comportamentos pelo menos 1 vez por semana.

Comparados os dois grupos, os pacientes com Anorexia Nervosa, Tipo Restritivo, são menos graves e têm melhor prognóstico que aqueles com o Tipo Compulsão Periódica/Purgativo. Esses últimos estão mais propensos a ter outros problemas de controle dos impulsos, a abusarem de álcool ou outras drogas, a exibirem maior instabilidade do humor e a serem sexualmente ativos..

Anorexia Nervosa pode levar à morte em conseqüência das alterações orgânicas e metabólicas secundárias à desnutrição e desequilíbrio eletrolítico. Isso exige uma constante avaliação clínica e laboratorial. Sua evolução é variável, podendo ir de um episódio único com recuperação ponderal e psicológica completa, o que é mais raro, até evoluções crônicas com inúmeras internações e recaídas sucessivas.

Características da Cultura, da Idade e do Sexo
Anorexia Nervosa parece ter uma prevalência bem maior em sociedades industrializadas, nas quais existe abundância de alimentos e onde, especialmente no tocante às mulheres, ser atraente está ligado à magreza.

Anorexia Nervosa raramente inicia antes da puberdade, mas existem indícios de que a gravidade das perturbações mentais associadas pode ser maior nos pacientes pré-púberes que desenvolvem a doença. Entretanto, também há dados que sugerem que quando a doença se inicia durante os primeiros anos da adolescência (entre 13 e 18 anos de idade), ela pode estar associada com um melhor prognóstico. Mais de 90% dos casos de Anorexia Nervosa ocorrem em mulheres.

Epidemiologia
A taxa de prevalência de pacientes com anorexia é de 1% e, destes, cerca de 90% dos casos são em mulheres. A doença acomete mais freqüentemente classes sociais mais elevadas. A anorexia surge em 45% dos casos após dieta de emagrecimento; em 40% por ocasião de uma situação competitiva. Algumas profissões ligam esbelteza com realizações, e populações especiais (notavelmente bailarinas e modelos) demonstraram ter um risco incomumente alto para o desenvolvimento de transtornos alimentares. A incidência de Anorexia Nervosa tem aumentado nas últimas décadas.

Curso
O curso e evolução da Anorexia Nervosa são altamente variáveis. Alguns pacientes se recuperam completamente após um episódio isolado, alguns exibem um padrão flutuante de ganho de peso seguido de recaída e outros vivenciam um curso crônico e deteriorante ao longo de muitos anos. A hospitalização pode ser necessária para a restauração do peso e para a correção de desequilíbrios hidroeletrolíticos. Dos pacientes baixados em hospitais universitários, a mortalidade a longo prazo por Anorexia Nervosa é em torno de 10%. A morte ocorre, com maior freqüência, por inanição, suicídio ou desequilíbrio eletrolítico.

Existe um risco aumentado de Anorexia Nervosa entre os parentes biológicos em primeiro grau de pacientes com o transtorno. Um risco maior de Transtornos do Humor, principalmente depressão, também foi constatado entre os parentes biológicos em primeiro grau de pacientes com Anorexia Nervosa.

Tratamento
Se o tratamento é em regime de hospitalização procede-se à correçào hidroeletrolítica, dieta hipercalórica mesmo contra a vontade da paciente, correção de possíveis alterações metabólicas e início do tratamento psiquiátrico.

A psicoterapia individual é indicada visando a modificação do comportamento, das crenças e dos esquemas falhos de pensamento.

psicofarmacoterapia é indispensável e, normalmente, se faz às custas de antidepressivos, notadamente com tricíclicos que tenham como efeito colateral também o estímulo do apetite e o ganho do peso.


FONTE: Psiqueweb

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Que São Comorbidades?

O termo comorbidade é formado pelo prefixo latino “cum”, que significa contigüidade, correlação, companhia, e pela palavra morbidade, originada de “morbus”, que designa estado patológico ou doença. Assim, deve ser utilizado apenas para descrever a coexistência de transtornos ou doenças, e não de sintomas. É considerada tanto a presença de uma ou mais distúrbios em adição à um distúrbio primário, quanto o efeito desses distúrbios adicionais.
A ocorrência de uma patologia qualquer em um indivíduo já portador de outra doença, com a possibilidade de potencialização recíproca entre estas é conhecida como comorbidade. No estudo da dependência química, a manifestação de transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de substâncias e de outros transtornos psiquiátricos vem sendo bastante estudada já desde os anos 80.
O abuso de substâncias é o transtorno coexistente mais freqüente entre os portadores de transtornos mentais, sendo fundamental o correto diagnóstico das patologias envolvidas. Os transtornos mais comuns incluem os transtornos de humor, como a depressão, transtorno bipolar, de ansiedade, de déficit de atenção e hiperatividade. Transtornos de personalidade e alimentares também apresentam estreita correlação com o abuso de drogas.
As comorbidades foram caracterizadas em 3 classes:
Comorbidade Patogênica  quando um determinado distúrbio leva ao aparecimento de outro, e ambos podem ser etiologicamente relacionados;
Comorbidade Diagnóstica  dois ou mais transtornos cujos critérios diagnósticos se baseiam em sintomas não específicos;
Comorbidade Prognóstica  quando a combinação de 2 transtornos facilita o aparecimento de um terceiro, como por exemplo, a maior chance de que um paciente com diagnóstico de depressão e ansiedade venha a apresentar o abuso ou dependência de álcool e drogas.
A co-ocorrência de transtornos mentais e transtornos devido ao uso de substâncias psicoativas vem sendo reconhecida na psiquiatria. Há evidencias de que mesmo o uso infrequente e de pequenas doses de drogas, legais ou ilegais, podem levar o individuo com transtornos mentais graves a conseqüências mais sérias do que as vistas na população geral e estão associados a mais efeitos negativos ligados aos transtornos mentais.
A incidência de comorbidade de abuso ou dependência de substancias e transtornos mentais graves parece estar aumentando. Tal fenômeno tem sido atribuído ao aumento e disponibilidade de álcool e drogas na população geral.
Estudos demonstram que pacientes com comorbidade, principalmente aqueles com transtornos psiquiátricos graves, apresentam maiores taxas de agressividade, detenção por atos ilegais, suicídio, recaídas, gastos com tratamento, falta de moradia, re-internações, têm maiores períodos de hospitalização e utilizam mais os serviços médicos.
Tratamento:
A melhora do quadro psiquiátrico em conjunto com o abuso de substâncias está associada a uma evolução favorável dessa ultima, reduzindo o risco de recaída e aumentando a qualidade de vida do paciente. O manejo da crise aguda deve ser feito tanto por uma equipe multidisciplinar, quanto por terapia individual. O tratamento integrado deve considerar os seguintes itens:
• O uso de farmacoterapia para o tratamento do transtorno psiquiátrico, desintoxicação e fase inicial de recuperação0 de prevenção de recaída;
• Usar técnicas psicossociais para aumentar a motivação, auxiliar na resolução de problemas e no manejo de situações difíceis;
• Apoio psiquiátrico para o controle de sintomas psicóticos, mania e depressivos com ou sem risco de suicídio.

Referências: 
en.wikipedia.org/wiki/Comorbidity
www.scielo.br/scielo
www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol32

terça-feira, 1 de maio de 2012

Bon Jovi - Borderline


Você liga toda hora  
Mas não tem nada a dizer
Então converse agora comigo
Antes que seja tarde demais
Oh, dizem que é impossível
Mas eu vi sua fotografia respirar
Aquele médico que cobra 50 paus
Disse que seu amor é uma doença
Tá tudo certo, estou bem
Ainda que não sabia como
E ainda que não saiba o motivo
Mas a conversa virou aviso
E agora estamos na beira do adeus
Seria isto o fim do começo?
Ou o começo de um fim?
Você é amiga do inimigo?
Ou inimiga do amigo?
Eu caminho pela linha divisória
Entre o dia e a noite
O certo e o errado
Linha divisória
As vozes gritam
De dentro de mim
Na linha divisória
Eu caminho pela linha divisória
Ouço conversas pelas ruas
Ouço boatos sobre você
As pessoas que encontro
Me contam que as mentiras são todas verdades
E eu acordo suando
Vejo você dormindo
Seria meu sonho a realidade?
Ou a realidade um sonho?
Eu cruzei a linha divisória
Entre o dia e a noite
O certo e o errado
Linha divisória
As vozes gritam
De dentro de mim
Na linha divisória
Eu caminho pela linha divisória
Eu caminho pela linha divisória
Entre o dia e a noite
O certo e o errado
Linha divisória
As vozes gritam
De dentro de mim
Na linha divisória
Eu caminho pela linha divisória
Yeah, yeah, yeah
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