sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Diagnóstico: Transtorno de Personalidade Borderline

 Aos 17 anos de idade comecei a fazer tratamento e tomar antidepressivos. Minha história é repleta de traumas, humilhações, abuso sexual, abandono, etc. Na adolescência tive anorexia nervosa, quase morri... Até hoje tenho transtorno alimentar. Aos 25 anos, extremamente deprimida, extremamente irritada, nervosa, ansiosa, literalmente surtava com meu namorado, hoje atual marido (um anjo na minha vida), e após tentar me suicidar por 3 vezes, minha mãe resolveu me levar em outra psiquiatra. A mesma que obteve sucesso no tratamento dela quando teve Síndrome do Pânico. Há dois anos iniciei meu tratamento com esta psiquiatra e hoje me sinto menos deprimida e um pouco mais calma. Sempre perguntei qual era o meu diagnóstico e ela dizia que eu tinha uma impulsividade fora do comum, rodeava sobre o assunto e ficava por isso mesmo. Todavia, não me dei por satisfeita e comecei a pesquisar meus sintomas no Google. Então após muita leitura, estudos e pesquisas fui capaz de me auto-diagnosticar com o Transtorno de Personalidade Borderline. Até hoje não sei o que senti quando me rotulei, afinal eu queria uma explicação, eu procurei por isso. Continuei procurando inúmeras informações sobre o assunto na internet e ontem encontrei muitos blogs com o tema. Li várias autobiografias, fiquei muito comovida com os relatos de dores, sofrimentos, diagnósticos. Tudo isso ficou martelando na minha cabeça e resolvi perguntar para o meu marido que é médico o que ele achava que eu tinha. Ele se sentou ao meu lado no sofá, olhou de uma forma sincera e comovente dentro dos meus olhos e me disse: "Ká, não temos segredos entre nós, sua mãe me pediu para não te contar, mas você merece saber a verdade. A psiquiatra revelou seu diagnóstico para ela. Você estava certa o tempo todo. Você tem o Transtorno de Personalidade Borderline, mas pra mim isso não faz diferença, eu amo você e sempre amarei do jeito que você é." Mas não teve jeito, eu chorei desesperadamente. Não adiantou nada eu ter descoberto por mim mesma que era TPB, ouvir isso do meu marido me tirou o chão.

(Kalili)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Apresentação


Meu nome é Kalili, tenho 27 anos, casada, bacharel em Direito, moro no interior de São Paulo. Não trabalho, apenas estudo, ou melhor, tento estudar para o exame da OAB. Me matriculei por duas vezes num curso preparatório para a OAB, mas não frequentava. Não tinha ânimo para ir nas aulas, não gosto da cidade onde moro, considero as pessoas deste lugar interesseiras, focadas no status social, portanto, para mim são pessoas medíocres. Porém, este ano após me matricular pela terceira vez no curso para o exame da OAB, pude frequentar a maioria das aulas. No entanto me sentia obrigada a ir nas aulas porque aceitei o convite para ser monitora da turma. No fundo não queria aceitar pois sabia que seria uma lástima como monitoria, ou seja, não cumpriria minhas funções estabelecidas pela coordenação do curso, mas não teve saída, eu era a única pessoa com horário disponível para exercer este cargo.... Como retribuição, já que ninguém faz nada de graça neste mundo, eles me concederam 50% de desconto. Fiquei super feliz porque o cursinho é caro e meu marido já tinha pago duas vezes.... O horário era péssimo. Só tinha turma a noite o único horário que as vezes posso ter a companhia do meu marido, e pra piorar eram 4 horas de aulas exaustivas, daquelas aulas que você é capaz de sentir sua alma sair de dentro de si e vagar pelo mundo.





Toda tarde me preparava psicologicamente para ir assistir as aulas. Ficava dizendo pra mim mesma: ''Você precisa arranjar força, coragem, vergonha na cara e ir nas aulas sua inútil. Você não faz nada na vida, é sustentada pelo marido, com muito esforço conseguiu se formar e agora não vai virar nada...'' Além das minhas cobranças, lembrava das cobranças da minha mãe para ser uma mulher independente. Então mediante essa tortura psicológica frequentei durante várias noites o curso que me daria o título de ser alguma coisa nessa vida ou perante a sociedade, afinal de contas ser bacharel em Direito não significa ser um profissional para o mercado de trabalho.




No primeiro dia de aula o coordenador explicou que eu deveria ligar o retroprojetor, ajustar o som, passar a lista de chamada, anotar as dúvidas dos alunos e o principal, solicitar silêncio durante as aulas, já que eram via satélite e não teria como repetir a explicação caso alguém se perdesse durante as explicações. Após todas essas orientações entrei na sala, procurei o lugar mais discreto possível, me sentei no fundo ao lado da parede. A sala estava lotada, tive a sensação de ser analisada por cada pessoa. Me sentar ao lado da parede foi uma excelente escolha, de alguma forma me sentia protegida por ela... Durante o intervalo algumas pessoas vieram conversar comigo, me perguntando onde me formei, onde moro, de onde sou... Respondido ao interrogatório pude constatar que era uma intrusa, posto que todos eles estudaram durante 05 anos na mesma turma de Direito, ao passo que eu vinha de outra cidade, estudei em outra faculdade e ainda por cima teria o dever de monitora-los. Meus sentimentos se reviraram e a culpa me dominou. Precisava ir nas aulas, não poderia falhar e decepcionar meu marido, família e amigos novamente. Então, durante dois meses frequentei continuamente sem faltar a nem uma aula. A culpa me empurrava e de alguma forma eu conseguia chegar naquele lugar. Conversava apenas quando vinham conversar comigo, retribuia o cumprimento daqueles que se dirigiam a mim e cumpria meus deveres de monitora. Como nada é perfeito, em uma aula após o intervalo, 3 moças não paravam de jogar bilhetes os quais alguns cairam em mim. Não levei para o lado pessoal, me fiz de idiota e continuei a prestar atenção na aula sem falar nada, até que uma delas começou a conversar com a colega e incomodar os raros alunos interessados em aprender a matéria. Não tive escolha e fiz "xiuuuu" pedindo silêncio. Ela não parou, pelo contrário, conversava mais alto. Então, novamente fiz "xiuuu" e nada. Pensei comigo: "Caramba, o que uma mulher de quase quarenta anos está fazendo aqui... ela não sabe se comportar num curso preparatório, imagine numa audiência, julgamento, etc." Fiquei p. da vida!!! Então olhei para traz novamente e pedi silêncio olhando fixamente em seus olhos. Ela disse que eu não poderia lhe mandar calar a boca, então retribui dizendo que não mandei calar a boca, mas sim fazer silêncio. Não conformada ela começou a me xingar e os demais colegas a apoiaram, dizendo que eu não poderia ter agido daquela forma. Me acusaram por não querer me enturmar com eles, disseram que sou indiferente... Me senti a pior pessoa do mundo, não consegui falar nada. Virei as costas e sai da sala. Entrei na coordenação, narrei toda a história e desabei a chorar de raiva, de vergonha, de frustração, humilhação. Naquele momento fiquei descompensada. Sabia que se voltasse pra casa dirigindo sozinha seria capaz de cometer loucuras, então pedi para que chamassem o meu marido. Me senti uma criança que briga com a colega e chamam os pais para conversarem. Quanta humilhação, raiva, vontade de morrer, sumir. Meu marido precisou abandonar o plantão e me socorrer. Me senti ridícula, aliás me sinto ridícula até agora. Depois deste episódio, não frequentei mais o cursinho, não estudei mais nada e o Exame será neste domingo. Estou muito ansiosa, nervosa, tenho crises diárias de enxaqueca, me arranho, tiro fios de cabelo, tenho vontade de morrer, quase tudo me deixa com os nervos a flor da pele.




Hoje, preferi contar sobre meu cotidiano, nos próximos posts escreverei sobre meu psiquiátrico, minha história e tudo que for relevante para este.



Boa tarde e sejam bem-vindos!
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