terça-feira, 13 de março de 2012

Meu Mundo Não É Mais Cor De Rosa

A maioria das mães brincam de boneca com suas filhas, fazendo-as seu próprio objeto de diversão.

Comigo não foi diferente. A minha adorava me enfeitar da cabeça aos pés. Mas isso ocorria apenas aos finais de semana, pois meus pais trabalhavam eu ficava em escolinha particular.

Minha mãe sempre me ensinou muitas coisas, porém, o que interessa para este assunto é ela ter me ensinado a gostar da cor rosa. 

Imagino que ela tenha eleito esta cor porque designa feminilidade, meiguice, e convenhamos é uma cor para meninas.... No entanto, os homens ficam lindos usando camisas rosa.

Sinto que ela tentou criar um mundo cor de rosa para mim. Fazendo tudo que fosse possível para suprir sua ausência, erros, todos meus traumas, medos, vazio.

As vezes penso que ela já imaginava que eu passaria por tudo isso, e então, criou este mundo cor de rosa na minha cabeça.

Mas por outro lado, nada disso faz sentido, já que sempre sofri, mesmo idealizando que tudo poderia ser perfeito algum dia.  

Não adianta me vestir com a cor rosa, ter celular rosa, bolsa rosa, pintar as unhas de rosa. Nada disso me trará alegria ou preencherá o vazio interior que estou sentindo.



  MEU MUNDO AGORA É PRETO

domingo, 11 de março de 2012

Rasgando meu Diploma


Admito que a escolha da minha carreira profissional foi de caráter emergencial. Depois de concluir o Ensino Médio, estudei 01 ano no cursinho almejando ingressar na Medicina, porém, não consegui passar em nenhum vestibular, pois tinha anorexia e só pensava em emagrecer, sentia muito sono, cansaço, etc.

Estava frustrada já que minhas amigas estavam há um ano na faculdade (Puplicidade e Propaganda), e eu no cursinho. Então resolvi que no ano seguinte faria algum curso. Comecei a cogitar as possibilidades naquilo que gosto de fazer, ou seja, sempre gostei muito de ler.

Como tinha uma prima cursando Direito e ela sempre foi tudo que eu queria ser (admiro-a demais desde criança), me influenciei na escolha dela e ingressei na faculdade de Direito.
A princípio adorei o curso, os professores, os colegas. Era um mar de rosas.

Até aprender com o Filósofo Thomas Hobbes: "O homem é o lobo do homem". Sim, o homem é capaz de tudo para satisfazer sua paixão, vontade, ambiação, prazer, etc. O homem pode matar, roubar, estuprar, violentar, molestar, bater, etc.

"Ah, mas estamos amparados pela lei". Engano sei meu caro (a). No meu caso a lei me desamparou. O monstro que me molestou quando criança, não poderá ser processado por mim porque a lei simplesmente PRESCREVEU: meu direito se extinguiu porque na época do crime de moléstia meus pais deveriam ter movido a Ação Penal Privada, mas eles não sabiam de nada, pois só revelei este caso no final do ano passado. 

O legislador provou que é um burro, não sabe elaborar as leis. A todo instante está reformulando-as. No meu caso, não poderei colocar este monstro jamais atrás das grades. Nunca terei a minha vingança e meu ódio é muito grande.

O Direito para mim, não serve pra nada. É uma PORCARIA para não dizer um palavrão aqui no blog. Me sinto como se fosse um pote de maionese com data de validade vencida. "Você já estragou, já passou da validade, não podemos fazer mais nada. O que lhe resta é viver no lixão".

Hoje a lei é diferente. A Ação Penal é Pública, sendo proposta pelo Ministério Público, mas mesmo assim, o Direito não vale nada. A setença de um juiz pode ser comprada por uma boa quantia em dinheiro. 

O filósofo naquela época poderia prever que o homem seria capaz de fazer o que fosse preciso para permanecer no poder ou alcançá-lo. 

Portanto, quero distância desta profissão medíocre, que ao meu ver mais parece brincadeira de criança daquelas: "faz de conta que acredito e você também tá...".    

sábado, 10 de março de 2012

Artigo: “Hipóteses para a gênese da personalidade borderline"

Resumo:
Este artigo aborda a relação da maternagem insuficiente ou inadequada na patogênese da Personalidade Borderline, fundamentando-se em estudos teóricos de autores diversos e em observações clínicas e excluindo, em parte, a hipótese da patogenia hereditária.

A forma como a maternagem é disponibilizada influencia diretamente na formação da personalidade patológica. Os diferentes traumas vivenciados na infância geram um profundo sentimento de rejeição e dor, incorporando-se na personalidade borderline.

A ausência da mãe e a falta de resposta às expectativas infantis geram o sentimento de vazio crônico desse tipo de personalidade. É difícil determinar de forma precisa, o papel da maternagem e das variáveis ambientais na constituição do sujeito e na gênese da Personalidade Borderline.

As privações, o abandono, abusos diversos e negligência determinam desde os primeiros dias de vida, a formação da personalidade do ser.


Artigo:
A trajetória teórica deste artigo tenta estabelecer uma relação entre as situações desestruturantes ou traumáticas, vivenciadas desde a infância com um tipo de personalidade conhecida como borderline, atribuindo a sua origem aos primeiros anos de vida e excluindo parcialmente a possibilidade de herança dos pais e o critério único de abuso sexual na infância.

O termo borderline, na concepção deste artigo, refere-se a um espectro amplo de agrupamentos patológicos ( Meissner, 1988; Kernberg, 1975).

A personalidade borderline é caracterizada pela falta de tolerância à ansiedade; falta de controle dos impulsos; falta de canais sublimatórios desenvolvidos; preponderância do processo primário do id; dissociação, identificação projetiva, negação, onipotência e desvalorização como mecanismos de defesa do ego; relações objetais internalizadas patológicas (Kernberg, 1975); pensamento quase psicótico; auto mutilação; preocupação de aniquilação; abandono/ fusão; exigência/ achar-se especial; tentativas de suicídio manipulativas (Zanarini e cols, 1990).

O ser humano, na fase inicial de sua vida, necessita dos cuidados do outro para assegurar-lhe as condições mínimas de sobrevivência. A mãe, no sentido amplo da palavra, tem papel fundamental e determinante no desenvolvimento do ser.

O bebê humano, em condições satisfatórias de desenvolvimento, transita pela frustração do reconhecimento da mãe como um indivíduo, como o outro, que contradiz a percepção inicial da mãe enquanto extensão do bebê. A partir desse reconhecimento, inicia-se, a formação do ego.

As diversas identificações com a mãe e posteriormente com o meio, as introjeções de traços do outro e do meio forma o ego. O ego resulta da sedimentação dos investimentos dos objetos perdidos, ou seja; do reconhecimento do outro, das frustrações geradas pela inviabilidade de satisfação imediata do processo primário e pela consolidação inicial do processo secundário. (Nasio, 1987).

Como um espelho a refletir e responder às diversas percepções e sensações do bebê, a mãe utiliza seus próprios valores introjetados para dar significado a tais percepções e sensações.

As atitudes do ego serão constituídas pelos traços da primeira relação objetal; mãe/ bebê, contendo a história do desenvolvimento do ser, identificadas com a forma pela qual a mãe proporcionou seus recursos para o desenvolvimento do filho. São estes fatores determinantes de como o ser em desenvolvimento conduzirá o seu self e se relacionará com os demais ( Bollas, 1992).

A constituição do psiquismo se fundamentará e refletirá os afetos, desafetos, vida e morte, amor e ódio, simbioses e rupturas vivenciados pelo ser na relação com a mãe e posteriormente com todo o ambiente.

A principal e mais importante função da maternagem será o holding (Winnicott, 1988), a qual consiste em emprestar o seu próprio ego ( da mãe) como apoio para que o bebê satisfaça suas necessidades, contendo suas angústias e internalizando padrões de comportamento, possibilitando o prosseguimento do desenvolvimento da personalidade do filho.

Na maternagem insuficiente ou inadequada, diversas atitudes da mãe serão significativas para o trauma que determinará o desenvolvimento da Personalidade Borderline.

Dentre os principais comportamentos de uma maternagem insuficiente, pode-se citar privações, negligência, abuso físico, sexual, emocional, maus tratos psicológicos e violência, resultando num estado amplo de descuido e desproteção para com o bebê.

Entende-se por privação, o ato de negar ao bebê condições físicas e emocionais necessárias para o seu desenvolvimento como um todo. O termo privação é amplo e abrange desde a alimentação ao afeto.

A negligência ocorre quando o cuidado, o holding e a função de tela protetora materna falha ou inexiste.
Entende-se por abuso físico, punições ou aplicação de força física desnecessária ao desenvolvimento da criança, deixando, por vezes, marcas no corpo da criança e reduzindo-a condição de submetida e impotente.

O abuso sexual geralmente se dá pelo descuido da mãe ao expor o filho a envolvimento de caráter sexual, o qual pode ocorrer por contato físico ou não, compreendendo exposição, manipulação, penetração ou exploração quando a criança não tem maturidade suficiente para compreender o que, de fato, acontece.

Respostas emocionais e comportamentais que, desnecessariamente, reprimem experiências fundamentais ao desenvolvimento infantil compõem grande parte do significado de abuso emocional. A outra parte do significado se encontra no ambiente familiar hostil, rígido, controlador ou excessivamente protetor.

Os maus tratos psicológicos ocorrem pelo desrespeito às necessidades, percepções e emoções do infante. A discriminação, a rejeição e a depreciação das necessidades da criança, atendendo as necessidades psicológicas da mãe ou de outros adultos também são maus tratos psicológicos.

Por fim, define-se violência a qualquer atitude dos pais, que cause danos físicos, sexuais ou psicológicos à criança. Sua definição é ampla pois envolve desde a omissão de atos à hiperação.

Infere-se que, ao vivenciar todo o trauma causado pela maternagem inadequada, a criança perde o referencial de feed back do meio, no caso da mãe, ocasionando um “buraco” na formação da identidade e da personalidade. Sem o feed back adequado, não há a informação de quem a criança é, do seu valor e dos seus limites.

A incapacidade infantil de resolver um conflito ou um problema vivencial excessivo para ela, passa a compor o seu sentimento de identidade, tornando-a enquanto adulta, incapaz de lidar com conflitos e problemas. A formação egóica recai na fragilidade e no sentimento de vazio, o qual se tornará crônico, compondo, enquanto sintoma, a personalidade borderline.

A ausência dos atributos da maternagem adequada também influencia, no decorrer do tempo, na formação do superego. A ausência da mãe e posteriormente do pai, nos cinco primeiros anos de vida, resultará num superego frágil, onde os limites não serão reconhecidos.

Portanto, o grupo familiar determina a possibilidade de saúde em seus membros. O grau de cuidados insuficientes ou inadequados e a fase do desenvolvimento infantil em que ocorreram podem determinar a gravidade dos prejuízos decorrentes (Bowlby, 1988; Spitz, 1988).

A dor da desvalorização, da rejeição, dos maus tratos e abusos e do sentimento de vazio resulta numa dor profunda que vai dilacerando a alma e estimulando o processo auto-destrutivo; um instinto imediato, oriundo da pulsão de morte, que estatisticamente confirma a incidência de taxas entre 3 a 9,5% de suicídios e 75% de tentativas de suicido na população portadora de Personalidade Borderline (Ballone, 2002).

Outras vezes, a pulsão de morte se expressará pelo seu derivativo de agressividade no meio, forma essa já vivenciada e introjetada anteriormente frente aos maus tratos e abusos físicos. Observa-se que vítimas de violência desenvolvem um amplo repertório de reações destrutivas.

O portador da Personalidade Borderline é chamado a todo instante a reviver exaustivamente a angústia vivenciada pelos traumas da infância. A cada experiência proposta no seu meio ambiente, na sua fase adulta, pode trazer intensas emoções negativas acionando de imediato mecanismos de defesa contra a dor psíquica, tais como a dissociação, a projeção e a negação.

A identidade mal formada se apóia na identidade do outro. Qualquer vislumbre de individualidade resulta no medo intenso de abandono e perda, acionando todo o instinto de manter a relação simbiótica a qualquer custo.

O vazio crônico precisa ser preenchido. Na Personalidade Borderline, o uso de substâncias como álcool ou drogas, a compulsão por alimentar-se ou por sexo são formas de preencher o grande “buraco” interno, em vão.

A compulsão por sexo é a forma fantasiosa de impingir ao outro o abuso sexual vivenciado em algum nível, durante a formação da personalidade, além de estabelecer uma tentativa de vínculo simbiótico simbólico com o outro.

A desvalorização dos sentimentos infantis e a depreciação de suas necessidades resultam na repressão da expressão emocional ou no seu completo empobrecimento enquanto adulto. Não se tem muita diferença entre o sentimento bom ou ruim, entre o bem e o mal e entre a vida e a morte.

O indivíduo torna-se incapaz de expressar gratidão, de interessar-se por si mesmo e pelos outros, de criar objetivos na vida. O outro, assim como a mãe, é sentido como estranho que tem a função de suprir e prover o que ele espera (Amendoeira, 1999). É como se o mundo estivesse em eterno débito para com esse ser.

Conclusão:
Fundamentado em diversos autores, estudos teóricos e observações clínicas, tem-se a evidência da relação entre os traumas proporcionados pela maternagem inadequada e a formação e estabelecimento da Personalidade Borderline, excluindo, em parte, a hipótese patogênica hereditária, assim como o critério único de abuso sexual, defendido por alguns autores.

Estatiscamente, tem-se uma estimativa de 2% da população geral com Personalidade Borderline, significando 10% dos pacientes psiquiátricos em geral e ainda representando 70% do sexo feminino (Carneiro, 2004).

A Personalidade Borderline é vivenciada como uma dor profunda, dilacerante e insuperável que passa a fazer parte da identidade do indivíduo, jogando-o no “beco sem saída” da violência, marginalização e auto-destruição.

Fonte:
http://www.nucleodepesquisas.com.br/artigos/hipoteses-para-a-genese-da-personalidade-borderline-olivan-liger-de-oliveira/
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